Marcelo acordou extremamente cedo aquele dia, mas não se moveu da cama, sequer abriu os olhos para encarar a claridade exterior. Ficou ali, admirando a obscuridade da mente e ouvindo a chuva que não caia. Mas aquele dia choveu, e como choveu. Sem que nenhuma gota caísse do céu. Sem que nenhuma nuvem de dissolvesse pelos prédios e casas.
Não, ninguém tinha morrido, ninguém havia partido. Só havia mudado, e mudado muito.
Marcelo desde sempre odiava mudanças.
Se lembrava com perfeição como havia infernizado a vida da mãe quando esta trocou os lençóis surrados de bola de futebol que ele tanto gostava.
Nunca foi mimado, mas sabia do que não gostava, e sabia que gostava das coisas do jeito que sempre foram.
Se já eram boas, para que mudar?
Ele não queria levantar e encarar o fato de que ela havia mudado. Era bem pior do que os lençóis da infância, ou as mudanças no corpo na adolescência. Era bem pior do que qualquer mudança que pudesse ocorrer.
Pois ela tinha mudado, não de estado, não de cidade, não de cor de cabelo, nem de comida favorita. Ela já não era aquela garota que ouvia os problemas dele com paciência. Ela não era mais aquela menina que dizia "eu te amo" porque realmente amava, hoje quando dizia, parecia ser por mera obrigação, como se ao envés de responder "eu também amo você" ele tivesse de dizer um "muito obrigada".
Marcelo não sabia como ela tinha mudado. Só sabia que ele teria que mudar com ela para não ter que mudar dela.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
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