sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Seu Zé

Nossa como aquela noite estava quente.
O tempo estava passando rápido demais, há cinco minutos o sol escaldante aquecia as paredes da casa, agora já era noite o vento assobiava uma canção que ela não compreendia.
Tentava se alegrar... "Será que vai chover seu Zé ? " sempre perguntava.
Seu Zé sabia tudo, era uma espécie de sábio, se tivesse frequentado a escola talvez não fosse tão inteligente, talvez fosse mais manipulado, e não tivesse nos olhos aquela humanidade, aquele calor.
Sempre que a via subir a rua de cabeça baixa, quase que tocando o chão, dizia com carinho e preocupação "O que cê tem menina ?  Tá doente ? " ela apenas forçava um sorriso, algo que não existia, não era espontâneo, nada em sua vida era. Respondia apenas "Tô não, seu Zé. Impressão sua.".
Mas aquele homem por trás do bigode bem aparado, sabia o que ela tinha. Talvez apenas não soubesse o termo correto, não conhecesse a palavra que descrevesse toda aquela reclusão, todo aquele cansaço que ela sentia mesmo sem se mover.
Seu Zé na semana passada, acertou antes do médico, que a dona Jurema estava com uma doença grave no sangue. Intuição ? Sexto sentido ? Paranormalidade ? Talvez observação... Porém ainda sim, nunca  disse o que ela tinha, e o que tinha era simples, se chamava apatia.
Creio que seja a pior coisa para se sentir. Nem triste, nem feliz. Apenas indiferente a qualquer situação; Morno; Cinza; Insensível.
Nada a abalava, porque nada a importava.
Ah, seu Zé, talvez ele não conhecesse o termo "apática" para dizer, mas viu, só ele viu, o mundo dela perder todas as cores, os olhos perderem todo o brilho, a pobre garota perder toda a vida.

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