Me olhei no espelho e não pude ver no reflexo quem sou. Não reconheci minha própria face. Senti-me observando um estranho. As feições todas caídas, os olhos distorcidos e uma expressão clara da dor mais escura.
A boca, trancada, cerrada, nada, nem uma gota de água seria capaz de passar por entre aqueles lábios, que apesar de jovens, pareciam velhos e doentios.
O rosto pálido, sem nenhuma maquiagem, deixava ainda mais vibrante o tom arroxeado das olheiras profundas. Percebia que dos olhos já não brotava nenhuma gota de esperança, percebia, porém, nada. Como se resgata a vida ?
Não tenho coragem nem de me encarar e ver que adoeço com o passar dos anos, agora, minutos.
A lua trocava de fase, os amigos trocavam de vida, as estações mudavam as cores da cidade, e nada eu notava.
Tudo era imperceptível, sem importância, vago, substituível, embora, nada mais eu substituísse.
Não buscava, nem lutava por nada. Deixava que o destino levasse embora quem quisesse e recebia as coisas que ele me trazia. Embora na maioria das vezes as partidas fossem minha culpa, ainda sim, sofria amargamente a cada novo "adeus".
Bem verdade que não exatamente sofria, a realidade é que remoía como um moinho, tudo de uma só vez, sem a nada prestar a devida atenção, sem nada sentir por inteiro.
Fazia de mim meu maior inimigo, mas também meu único refugiu.
Já não sentia afeição por ninguém, nem nada digno de declarações exageradas. Nem tristeza, nem alegria.
Essa apatia, esse conformismo, essa reclusão, era o que mais me perturbava, era só o que se fazia sentir.
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