domingo, 14 de outubro de 2012

Procurando um título que não seja repetitivo


Aos cinco anos de idade aprendeu o que é perder alguém que se ama. Aos dez, descobriu o que é ver seu herói se tornar vilão. Aos quinze já não queria mais viver.
Sua primeira desistência foi de encontrar o amor de sua vida. Se você tem 30 anos e está lendo isso, ficara parecendo bobagem coisa de adolescente, mas se você tiver a mesma idade que ela, bom, ai fara todo sentido do mundo para você.
Parece que dia após dia vamos perdendo gradativamente nossa sensibilidade. Se com quinze anos você já desistiu do sentimento que move as pessoas, com sessenta você será só um poço de solidão e amargura.
Era disso que ela tinha medo. Envelhecer sozinha, pois até os gatos não aguentaram e foram embora. Morrer sem ter deixado nada, além de histórias sem pé nem cabeça, além de relatos de um coração cansado de pulsar. Por isso queria morrer como os grandes músicos  com 27 anos de idade, se fosse antes melhor ainda.
Seu nome ?
Talvez seja muito cedo para essas apresentações. Nunca gostou de dizer como se chamava, seu nome era bonito, mas aquele nome não tinha nada haver com ela, a garota que tinha sido batizada com aquele nome havia morrido anos atrás. Usava então um apelido que ganhara de um amigo. E só isso, era essa quem era, ou queria ser.
Um dia lhe falaram que toda a sua personalidade era de mentira, que na verdade ela nunca fora como dizia ser. Ela sorriu, puxou o cabelo para trás e disse com ironia "talvez, quem sabe ? Mas se está dando certo para que mudar ? " colocou o cigarro na boca e deu um trago. Depois foi embora, alias, estava sendo indo embora, nunca ficava em lugar nenhum, nada a prendia, era livre, mas era infeliz.
Talvez ela quisesse que alguém a ligasse importunando, brigando e perguntando "onde você está ?". Quem sabe no fundo ela só quisesse alguém que conseguisse a fazer parar, quem sabe até mudar. Será que seria feliz não sendo "livre" mas tendo um peito pra morar ?
De bar em bar, sempre. Sentava-se no balcão e pedia uma dose. "Dois dedos de whisky é pouco." dizia. Era pouco para tanta dor. Com uma dose não conseguia nem mesmo engolir aquelas coisas que a sufocavam na garganta. O tipo de coisa que a gente grita para o mundo escutar, mas ela era sozinha, ninguém a ouviria.
Antes de dormir não rezava, não acreditava em deuses. Nunca acreditou. Mas se lembrava de quando era apenas uma inocente criança e sempre pedia para "o papai lá de cima" cuidar da sua familia e amigos, infelizmente ou ela não sabia rezar ou não havia ninguém olhando por ela. Chegava em casa sempre quando  todos os vizinhos estavam saindo, e ia dormir quando o mundo acordava. Sempre nos horários errados, nos motivos errados, nos caminhos errados. Ela não se importava, ou fingia muito bem. Ninguém sabia nada dela e bom, ela não queria saber nada de ninguém.
Seus amigos eram as bebidas e os cigarros, ah, sim, e a música.
Não sabia tocar nenhum instrumento, mas sabia inúmeras músicas. Sua vida sempre tinha trilha sonora. Música para ela bastava ser boa, ter uma letra marcante, e tinha que ser depressiva, eram as melhores, ou talvez ela que só soubesse ver beleza na tristeza.
Confiar nas pessoas sempre fora complicado. Ela sempre confiava demais quando não devia e de menos quando era para confiar. Por isso não tinha nada, ou melhor, ninguém.
Deixou os melhores escaparem por medo de tentar, e mesmo percebendo o enorme erro ela não via motivos para pedir desculpas, ou tentar outra vez.
Já não existia frase feita que a descreve-se. Não existia chuva que a fizesse comover, nem dor que a fizesse se contorcer. Não havia nada, apenas uma casa fria, e um peito onde não germinava nenhum bom sentimento.
 - Do que você tem medo ? - perguntou o psicologo bigodudo. Tinha sido recomendado por um conhecido dela, já que não possuía amigos.
 - Das pessoas...
 - Acha que vão lhe fazer mau ?
 - É tudo que sabem fazer.
 - Você disse na ficha que já tentou suicídio, quantas vezes ?
 - Inúmeras ...
 - Qual foi a ultima vez ?
 - Depende, que horas são ? - e soltou um sorriso malicioso. O homem se chocou no primeiro momento, mas depois perguntou com uma certa ironia
 - Se você quisesse mesmo se matar já teria o feito da primeira vez que tentou. Correto ?
 - Não. Suicidas se matam aos poucos. Ainda não tive coragem de puxar o gatilho, talvez falte pouco, não sei. Ainda existe alguma esperança em mim, mas a cada lágrima que derramo ela vai se apagando. Quanto mais conheço o mundo menos eu gosto. Se acordar de manhã e preferir ficar na cama só para não ter que encarar o mundo lá fora não for estar morto, então me diga, o que é ?
 - Você já tentou se apaixonar por alguém ?
 - Eu sempre tento... Sempre me apaixono, nunca dá em nada. Acho que sou um fardo muito grande para alguém suportar. Foi bacana conversar com você, mas preciso fumar.  - Saiu pisando firme, mas sentindo o corpo fraco. Lá fora o vento era forte. Seus cabelos voavam desordenados, tão bagunçados quanto sua vida. Enfiou as mãos no bolso do moletom e saiu caminhando de cabeça baixa, sempre cantando uma canção sem melodia, sempre errando nas notas, esperava ainda esbarrar em alguém que cantasse a mesma música.

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