Quando você saiu apressado e bateu a porta da frente, as flores da sala murcharam, e nosso quadro caiu da estante.
Silenciosa, recolhi os cacos de vidro esparramados pelo carpete surrado vermelho, que tínhamos combinado de trocar no próximo mês.
Me sentei naquela cadeira de balanço, e senti que a temperatura ia caindo gradativamente, logo eu congelaria, logo eu estaria entre paredes de gelo.
Peguei um cigarro, mas estava tremendo tanto que não consegui acender...
O café esfriou, a cerveja esquentou, e os cães da rua pararam de latir.
As músicas não tocam como deveriam.
Passo horas do lado do telefone esperando que ele toque, esperando que você diga que está voltando.
Converso com objetos que não tem nada a me dizer.
Acho que estou enlouquecendo, acho que já não sou quem era antes.
Minhas amigas passaram aqui ontem a noite, vieram saber se estava tudo bem. Como pode imaginar elas saíram daqui arrasadas e perturbadas, acho que nunca mais vão voltar.
Por falar em voltar, por onde anda você ?
Está hospedado em algum hotel ? Tem pensado em mim antes de dormir ?
Consegue me ouvir dizer seu nome ?
Apenas me diga que não está perdido por nenhum prostíbulo, apenas não me diga que quer me esquecer com essas nauseabundas mulheres...
Você quer me esquecer ?
Quer mesmo passar uma borracha no meu nome e endereço ?
Meu nome, é seu nome, e moro na sua casa, aqui é seu lar, seu lugar é ao meu lado.
Não consegue perceber ?
Ah, sua mãe me telefonou, disse que tu passou por lá, mas não quis ficar. Me perguntou o que tinha acontecido, afinal nosso amor era tão bonito.
Tão bonito que deve ter causado inveja nos anjos, que resolveram te tirar de mim.
Se foi erro meu, me diga qual foi, me diga o que eu fiz, me diga como eu faço pra te trazer de volta.
Me conte onde você está que largo tudo pra te encontrar, pra te buscar.
É que eu te amo, se não amasse teria te arrastado e te prendido dentro de casa. Porém por te ama tanto tenho que te deixar livre, e o máximo que posso fazer é deixar a porta aberta, caso você decida voltar.
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