domingo, 2 de dezembro de 2012

Borboleta preta


Ouvia-se da cozinha o som dos pratos batendo no fundo do armário. A sim, era domingo, e provavelmente a mãe estava preparando uma macarronada saborosa. Um tempo depois ouviu pequenos pés correndo pelo corredor. Ótimo, os familiares chegaram para o tipico almoço de domingo. Familiares que a fariam milhares de perguntas, que no momento custa responder.
Seria uma tarde de chateações...
Se levantou sem vontade, para não ter que acordar pela vontade do pai, batendo impaciente na porta do quarto. Ajeitou o cabelo de qualquer jeito, vestiu a primeira roupa que encontrou pelo chão.
Caminhou até a cozinha e como um peso morto se atirou na cadeira. Não estava com fome, mas era melhor engolir a comida, mesmo sem sentir o mínimo gosto, mesmo sem ter a menor vontade. Hora ou outra forçava um sorriso, ria, dos risos mais forçados, de alguma piada de um tio seu.
Tudo para não chamar a atenção para a sua total falta de alegria.
A noite, quando todos foram embora, ela fechou a porta, se atirou na cama e tentou adormecer. Meio zonza, abriu os olhos. Um estranho inseto foi ganhando forma. Uma borboleta preta, parada a alguns palmos do seu nariz, olhava, com aqueles olhinhos monstruosos para ela, pousada no abajur ao lado da cama. Pelo que ela se lembrava, esses insetos anunciavam morte, mas naquela noite a borboleta havia chegado atrasada, pois ela havia morrido na noite anterior.

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