Ela entrou pela sala caindo aos pedaços e se atirou no sofá com as botas negras cheias de terra vermelha.
Não estava chorando, não havia mais nada para chorar.
Ela não conseguia colocar em palavras o que estava sentindo. Tudo estava morto dentro dela, a única coisa que se mexia ali dentro era aquela dor...
Tocar a vida, seguir em frente... Parece mais fácil nos filmes.
Sempre foi muito cética a respeito de tudo. Não podia sequer dizer que ele estaria em um lugar melhor. Talvez no fundo ele estivesse mais vivo do que ela.
Será que tinha doído ? Será que existia uma luz antes do fim ? Será que existem anjos ? E Deus ? Será que existia ? Como deveria ser morrer ? Como deveria ser deixar de fazer parte da humanidade mas nunca deixar de habitar os corações que ficaram com as lembranças ?
Será que ele conseguia escutar ? Será que ele viu a terra sendo jogada em cima do caixão ?
A maior dor, e isso ela poderia confirmar, era ter que ir embora do cemitério, e ter que deixa-lo ali, sozinho, para sempre.
Ela queria o agarrar nos braços como fazia nas noites frias e o levar para casa, onde era o seu lugar.
Ela queria mais um minuto só para poder sentir o perfume que ele tinha antes do formol.
Como dormiria naquela cama agora ? Como viveria naquela casa sem ele ? Era tudo tão espaçoso, era grande demais e era vazia, era triste, era cinza, melancólica, não era a mesma casa. Alias, nada era o mesmo. Nada de música alta, nem cheiro de cigarro, nem cheiro de amor. Nada. Só lembranças vivas, só lembranças quentes.
Nos lençóis ainda podia sentir seu cheiro, e doía saber que se ela lavasse aqueles lençóis nunca mais sentiria, mas que com o tempo o cheiro iria se perder. Ela não pensava nada, não queria pensar. Apenas tentava desligar o cérebro para não ficar vendo aquele enterro repetidas vezes, mas não dava.
Aquele ultimo adeus, até fecharem a tampa do caixão...
Seria melhor se ele tivesse a trocado por outra, isso não seria um adeus definitivo, ela o veria ainda, se sentiria triste por não estar com ele, mas o que ela iria sentir não chegaria nem perto do que sentia agora.
Aquele não era ele ...
Ele nunca usaria um terno muito menos deixaria o cabelo arrumadinho daquele jeito. Se aquele fosse ele, as calças estariam bem mais agarradas e rasgadas no joelho. Se aquele fosse ele não seria um velório mas uma pista de skate.
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